Em Cada Povo Uma Igreja Genuinamente Indígena


 

CONPLEI JOVEM - CAMINHANDO COM A IGREJA INDÍGENA

ASAPH BORBA

Depois de quase três horas de viagem, chegamos à Miranda cidade próxima à divisa do Brasil com o Paraguai. A cidade ficou ao lado, enquanto nosso carro, uma Landrover, tomou a direção da aldeia Terena de nome Moreira, aonde seria o encontro de jovens que reuniria etnias indígenas de toda a região Centro Oeste, amazônica e aqueles vindos do Paraguai. Um grupo de tucanos coloridos em revoda nos deu as boas vindas. Ao chegarmos no centro da aldeia aonde seria o evento, o pastor Henrique Terena, líder do COMPLEI – Conselho de Pastores e Líderes Evangélicos Indígenas, nos recebeu com muita alegria e amor.

Meu contato com o evento foi feito através de minha amiga e sócia, gerente da Life Comunicação, Susie Ungaretti, que ama e apoia este projeto.
No decorrer do dia chegaram as caravanas. Até este dia, para mim todos os índios eram iguais, mas não são. Cada grupo étnico tem suas características, cores, feições, língua e cultura. Porém o que me impressionou foi o número de jovens, crentes e buscando a Deus. Os números divulgados pelos missionários são animadores. Em quase todas as etnias brasileiras já existem convertidos e Igrejas. Mesmo que o desafio ainda seja grande, a obra feita por missionários tem sido eficiente e intensa. Pudemos ver isso, conversando com muitos deles presentes no congresso.

Noruegueses, alemães, americanos, canadenses, coreanos e muitos brasileiros, formam esta legião de guerreiros da fé que nos últimos 100 anos levaram a fé cristã às mais longínquas aldeias.

O que, entretanto já se vê com entusiasmo, é o número enorme de pastores indígenas, que hoje pastoreiam seus iguais. De acordo com o Pastor Terena, a grande maiorias dos líderes desses projetos já são oriundos de suas próprias tribos e etnias. Na aldeia onde estávamos, lá estavam as as provas disso: Igrejinhas pastoreadas por nativos Terenas com revelação e graça de Deus para alcançar seus semelhantes. O trabalho desses irmãos é visível, pois, mais de 80% dessa aldeia e da vizinha chamada Passarinho, já são convertidos a Cristo. Os pagés, antigos curandeiros, que defendem em muitos segmentos indígenas as tradições, ali já não mais existem. Até mesmo o cacique local, presente na abertura do evento, já é convertido.

A parte negativa foi ver que ainda a igreja brasileira precisa ainda acordar para esta frente missionária. O investimento ainda é pequeno. Por falar em investimento, encontrei tambémoutra realidade. Os investimentos governamentais nestas sociedades são pífios, pois segundo os próprios índios isto deve-se ao fato de não serem eleitores. Dessa forma as comunidades penam, por falta de recursos e os pastores que lá trabalham, têm que desdobrar-se para ajudar socialmente, com alimentação e ajuda de todo tipo com as pequenas verbas que recebem. A agricultura e pecuária são pequenas e vesse a sombra da miséria, que é atenuada unicamente pela presença da Igreja.

Assim depois de três dias de trabalho, oração, adoração e pregação, tive a alegria de levar um cacique Xingu a Cristo, que tornou-se meu amigo e irmão pra sempre.
Vamos lá irmãos, vamos orar e olhar para a Igreja Indígena, com outros olhos. Olhos de amor e investimento.


O QUE SÃO MISSÕES TRANSCULTURAIS?

Duas coisas diferentes que comumente confundimos são MISSÃO e Missões. Desde o Éden, quando a raça humana nas pessoas dos nossos primeiros pais se separou de Deus pela desobediência, Deus manifestou seu Amor e seu plano perfeito e eterno de resgatar para si aqueles que se haviam perdido. Genesis 3:15 é a primeira promessa do Libertador, aquele esmagaria a cabeça da serpente ainda que ferido no calcanhar. Esta é a MISSÃO e ela pertence a Deus pois ele mesmo se propôs a cumpri-la.

Por esta razão Jesus afirmou não poucas vezes que ele havia vindo para resgatar, buscar, o que se havia perdido. Maravilha das maravilhas é que o Senhor Deus desejou contar conosco e usar-nos no cumprimento da MISSÃO. Missões, portanto, são expressões diversas pelas quais nós, povo de Deus, cumprimos nossa parte na MISSÃO, isto é, em toda parte e de toda maneira levando as boas novas de que, em Cristo, já é possível voltar ao lar.


A Missão é desenvolvida em missões transculturais todas as vezes que buscamos COMUNICAR a notícia de salvação em Cristo a outros, mesmo perto de nós, e, ainda, sempre que os missionários ou enviados buscam fazê-lo a grupos humanos que existem em outros universos sócio-culturais e linguísticos, isto é, onde as maneiras de pensar, de entender a vida e de falar são mais ou menos diferentes das nossas, os que queremos comunicar do Evangelho. Paul Hiebert diz:
“Há um abismo entre nós e aqueles a quem vamos servir (ministrar). Há ainda um abismo maior entre o contexto histórico e cultural da Bíblia e vida contemporânea. Como unir estes abismos, tornando possível e eficiente a comunicação (transcultural) ... do Evangelho?”



QUAL A IMPORTÂNCIA DE CONHECER A CULTURA DE UM POVO

?

Para responder bem a esta pergunta precisaríamos pensar mais demoradamente no que é, finalmente, o que costumamos chamar CULTURA. Muitas são as tentativas de definir este conjunto de coisas que acaba por definir que tipo de pessoa humana ou mesmo de grupo humano é este sobre o qual pensamos. Uma imagem muito usada é a de uma cebola com suas várias camadas sendo cada uma delas uma representação dos diversos níveis de realidades que compõem a pessoa humana e também um povo ou raça humana. Hiebert, citando LARAIA diz que culturas são:
“Os sistemas mais ou menos integrados de idéias, sentimentos, valores (e crenças) e seus padrões associados de comportamento e produtos, compartilhados por um grupo de pessoas que organiza e regulamenta o que pensa, sente e faz.” (Laraia em Hiebert, 1999, 30). grifo nosso
.

Tentar comunicar com alguém ou com um povo que pensa e tem valores, sentimentos e crenças totalmente diferentes dos nossos é uma tarefa das mais complicadas, uma vez que não conhecemos os caminhos para a compreensão, as barreiras que podem atrapalhar ou mesmo impedir por completo que a mensagem que eu tenho a transmitir seja compreensível da forma como eu gostaria de comunicar. De fato, as diferenças de pensamento são tão sérias que algumas vezes além de não sermos compreendidos podemos mesmo entrar em situações perigosas por ofendermos alguém com palavras ou ações que, para nós, não significam ofensa, mas para eles sim. Por isso, tentar comunicar o Evangelho de Cristo sem conhecer previamente a mente e o coração de um povo a quem queremos alcançar vai, inevitavelmente, fadar nosso esforço a uma acomodação sincrética de idéias, onde o velho e o novo se fundem e produzem algo diferente e falso.



QUAL O VALOR DA BÍBLIA TRADUZIDA PARA UMA LÍNGUA NATIVA?



Por que a fé vem pelo ouvir e ouvir a palavra de Deus.
Jesus é prometido antes da fundação do mundo, a história de Deus está em toda a Bíblia. É muito importante que um indígena tenha esta história completa, para que não coloque as histórias de Deus no mesmo patamar de seus mitos.
A bíblia é nosso manual de instruções, ela supra cultural ou seja serve para qualquer cultura.
Para um indígena ouvir Deus falando sem sua própria língua, e ver seus escritos é fundamental para que creiam que este Deus é seu criador.
Estudamos a bíblia para sentir o mundo como Deus sente, ver com o olhar Dele. Por isso é muito valioso ter essa visão de Deus escrita em cada língua, ao alcance de todos.



O POR QUÊ DE ANUNCIAR O EVANGELHO PARA OS INDÍGENAS?



Sempre me deparo com esta pergunta: para que pregar para os indígenas? Eles são puros e sem pecado. Bem o que a bíblia diz é que todos pecaram, isso inclui os indígenas, africanos, brasileiros, etc. E aonde chegou o pecado tem que chegar a graça redentora de Cristo.
Em atos capítulo 1:8 diz que todo crente receberia poder, resultado da presença do Espírito Santo em nós, mas esse poder seria para ser testemunhas custe o que custar, até aos confins da terra, até a ultima aldeia.
Sabemos que não é tão simples, eles vivem em um mundo espiritual bem mais real que nós, barreiras enormes tem que ser vencidas, línguas a serem aprendidas, culturas a serem adquiridas.

Mas o maior preço já foi pago na cruz. Se Ele disse Ide, a nós cabe só obedecer.

Além de ser uma ordem é um ato de amor e fidelidade. Foram comprados cabe a nós avisá-los. Vivem em trevas, cabe a nós levar a luz, estão morrendo é nossa obrigação levar Jesus, a Vida.
Se eu fosse um deles gostaria muito que alguém falasse desse tão grande amor.


E você? Se fosse um deles?



Missionário Carlos Carvalho  - Missionário e consultor linguístico da Missão Novas Tribos do Brasil



 


 

A antropologia brasileira e a banalização da vida: o infanticídio indígena - a omissão da intelectualidade

 

O infanticídio indígena não é uma questão de cultura, mas de falta de informação. E se essa informação não chega nas aldeias, é a sociedade brasileira que está falhando e se omitindo na sua responsabilidade com os povos indígenas.

Pensando e lendo sobre o infanticídio indígena em várias fontes, entendi o seguinte: 1. a cultura é dinâmica; 2. a cultura não é determinante; 3. a cultura precisa somar elementos positivos na vida de um grupo ou sociedade; 4. a cultura expressa a identidade de um grupo social, ou seja, é um identificador de hábitos, costumes, relacionamentos, enfim.

Quando pessoas – antropólogos ou órgãos de um governo – determinam que não se pode interferir na prática do infanticídio indígena (por ser uma questão cultural, entendendo que os indígenas mesmos é têm que resolver essa questão), não estamos tratando de “respeito cultural”. Isso é banalização da vida, ou seja, omissão da intelectualidade e de órgãos oficiais.

Digo isso por quê? Não somos uma cultura superior aos indígenas; somos uma cultura que tem mais informação.

Se uma mãe indígena, assim como seus parentes, pudesse compreender que gêmeos não são uma aberração ou uma maldição (alguns grupos entendem que um é do bem e outro é um espírito do mal) ou se soubessem que existem tratamentos para seus filhos que nascem com alguma deformidade ou doença, não buscariam essa opção ao invés de matá-los?

Há um peso e trauma sobre os pais indígenas, assim como em toda a tribo que sofre quando eles têm que tomar essa decisão. Não gostariam eles de se sentirem aliviados por não precisar mais se utilizarem dessa prática? Casos de gêmeos ou de deformações não são questão de cultura, mas de genética. O respeito à cultura requer, então, informação e esclarecimento por parte daqueles que detém o conhecimento científico. O respeito jamais justifica a omissão.

O infanticídio indígena não é uma questão de cultura, mas de falta de informação. Se essa informação não chega nas aldeias, é a sociedade brasileira que está falhando na sua responsabilidade com os povos indígenas.

A informação, assim como o conhecimento, quando têm por objetivo trazer melhores condições de vida a uma população, nunca “estragam” uma cultura, mas lhe dão possibilidades de se aperfeiçoar.

Nós, na sociedade brasileira, estamos impedindo que o conhecimento chegue às tribos indígenas. Alegamos que estaríamos estragando ou adulterando a cultura indígena. Isso, na verdade, é um sofisma para justificar omissão e falta de interesse.

Por

Susie Ungaretti e Carla Bastos dos Santos

www.facebook.com/vozigrejaindigena.com

 

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Esperando a volta do Criador! Expectativa messiânica da tribo Zo'e, povo indígena isolado na Amazônia

 

           

 

Que essa história mova nosso coração como igreja a dobrar os joelhos: O povo Zo'e era uma tribo isolada no PARA.

 

Na década de 80, missionários ligados as Novas Tribos do Brasil iniciaram um longo e difícil trabalho para chegar até esses indígenas e assim lhes apresentar as boas novas de Jesus - o evangelho. As dificuldades de acesso pela floresta eram inúmeras, a malária companhia constante em seus corpos, assim como a saudade e distancia da família - esposa e filhos abraçava seus corações. Mas o encargo de levar a salvação aqueles índios isolados era mais forte que tudo. Depois de muitas dificuldades conseguiram o contato e ali montaram uma base.

 

Uma tribo com o risco iminente de extinção devido a malária foi erradicada pelo trabalho dos missionários. Porém em 1991, a Funai expulsou esses missionários deste local interrompendo todo o trabalho ali realizado e contra a vontade dos próprios indígenas. Nesta cultura indígena existem fortes expectativas messiânicas. Eles perguntavam aos missionários: Por que o Criador não vem? Os Kirahi ( homens brancos ) o estão impedindo?. Sim, os kirahi estão impedindo. Foi em vão todo o trabalho de anos destes missionários? Não, não foi em vão. Deus tem o seu tempo.

Mas sabemos que o inimigo sabe das palavras de JESUS: "E este evangelho do reino será pregado em todo o mundo, em testemunho a todas as nações, e então virá o fim" Mateus 24:14.

 

Satanás sabe que o seu fim está próximo e fará de tudo para impedir que esses povos recebam o evangelho. Essa é a história deste livro, da tribo Zo'e que espera que os kirahi permitam que eles conheçam Jesus. Ore pela FUNAI e pelos orgãos administrativos que tem feito forte perseguição aos missionários. "Nedji, você viu o Japohãn por lá, onde você andou? (...) os antigos diziam que ele veio aqui; criou nossos antepassados e depois voltou pelo rio para a região do mar, junto dos Kirahi. Nós o estamos esperando para curar os doentes e dar vida aos mortos, mas infelizmente os Kirahi não permitem que ele volte!!!" - Isso não constrange os nossos corações a oração? O meu constrange! Fica a dica de leitura. A propósito, a palavra zoé em grego significa VIDA.

 

Por Susie Ungaretti

 

 

                                               



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ENCARGO NO CORPO DE CRISTO

Em 1995, eu estava em Curitiba passando 15 a 20 dias em Canaã – Irmãs Evangélicas de Maria, para ajudar as irmãs naquilo que era necessário. Estava ali como voluntária.

Um dia recebi uma visita inesperada em Canaã. Uma irmã, que na época, fazia parte da liderança da AD2000. Conversamos sobre missões. Foi nesta ocasião que adquiri uma fita sobre ministérios de “povos não alcançados”, bem como 30 cartões das mais variadas tribos indígenas do Brasil. Sabia pouco, ou quase nada, sobre a vida, crença, atividades, regiões...enfim vidas que precisavam do conhecimento, experiência de transformação e libertação por intermédio da palavra de Deus.  Foi quando o Espírito Santo tocou meu coração de orar, me inteirar mais a respeito deste segmento.

Algum tempo depois, formei um pequeno grupo de intercessoras em minha casa em Porto Alegre, para ajudar a carregar o peso das necessidades dos indígenas e a principal delas: conhecer JESUS.  Cada integrante do grupo de oração levava então, um cartão de uma tribo, para orar durante a semana e assim, sucessivamente, até percorrer todas as tribos. Éramos fieis no compromisso!

Algum tempo mais tarde, as irmãs de Maria tiveram contato com um indígena Cristão e a convidaram para o retiro de Canaã, o indígena Paulo Nunes. Assim tive o primeiro contato com “irmão indígena” e isso falou muito profundamente comigo. Emoção, alegria se misturava. Deus permitiu que eu visse com meus olhos a resposta de oração e clamor pelos indígenas do Brasil.

Desde então não parei mais de interceder por aquilo que viera a conhecer: indígena como discípulo de Cristo.  Orando também pelo CONPLEI que até o evento de 2012 não conhecia pessoalmente.

Mas Deus é simplesmente maravilhoso e conhece o mais íntimo do nosso ser. No mês de julho a porta se abriu para participar do centenário (entrando para o bicentenário) deste congresso que fez e tem feito muita diferença na minha caminhada de fé. Foi benção sem medida.  Foi um prelúdio de como vai ser na eternidade e a palavra profética de Apocalipse 5: 9b-10 vindo a se cumprir.

“Digno és de tomar o livro e abrir os selos, porque foste morto e com seu sangue compraste para Deus homens de toda a tribo, língua, povo e nação; e para o nosso Deus os fizeste reis e sacerdotes e eles reinarão sobre a terra.”

“Estavamos (eu estava) como quem sonha” – Salmo 126:1b, agora podendo enxergar, homens, mulheres, crianças, livres do cativeiro do engano, do sofisma, da mentira. Ali, livres para louvar, dançar e pregar as mensagens que agradam a Deus.  Algo que o Senhor nos mostrou neste CONPLEI, com 81 etnias e mais de 15 países que: apesar de sermos tão diferentes “exteriormente e culturalmente” se falava a mesma língua, linguagem espiritual, tendo a Bíblia como manual.

Experimentamos o que está em Efésios 4:5 e 6 “um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus e pai de todos...” então, o  sangue que corre em nossas veias  é o sangue de Jesus, em todos indistintamente.

Agora quero estar mais compromissada de orar por este ministério, pela 1º, 2º e 3º onda missionária para que o Brasil seja inundado pelo poder do evangelho e a glória do Senhor.

“Posso ser o que você é sem deixar de ser o que sou” é a misericórdia de Deus que faz de nós dentro da cultura de cada povo e etnia, cristãos semelhantes a Jesus.

“Ele se tornou o que somos, para que pudesse fazer de nós o que Ele é” – Atanásio.  É o amor de Deus que apesar de sermos tão diferentes em culturas, somos iguais nele.

 

Por Clari Classi

Enfermeira, participa da igreja Cristã em Porto Alegre.

 

 

 


O DOM DE SOCORROS

(I Coríntios 1.28)

No seu trabalho com a língua indígena, o tradutor da Bíblia está sempre à caça de novas palavras para transmitir conceitos bíblicos. A busca da palavra acertada às vezes se transforma numa intensa batalha espiritual, a ser vencida com muitos louvores a Deus e orações com jejum (II Crônicas 20.21,22; Marcos 9.29). Aí, inesperadamente raiando como uma luz a palavra tão desejada vai aparecer - às vezes em resposta a uma pergunta simples do tradutor, ou numa conversa descontraída entre os indígenas, por exemplo: Foi assim que o saudoso missionário, Arthur Hemmons, descobriu a tradução de: “socorrer” ou “ajudar”.

Ao perguntar a um índio da tribo crahô (um povo que vive ao norte do estado Tocantins) como ele diria que alguém estava ajudando a outrem, o índio respondeu: “kran-kaî pá”. Isso é, “apoiar a cabeça”. Com esta tradução, não é difícil se imaginar alguém triste, cabisbaixo, desalentado, sendo reanimado e alegrado por um amigo. Ou alguém fraco e doente, tendo a sua cabeça erguida por alguém que vem socorrê-lo.  São, ambos, atos que fazem parte do “dom de socorros” e refletem o caráter e ministério do Espírito Santo na vida do discípulo de Jesus (João 14. 16,26).

Numa nota à parte, o vocábulo citado acima, com muitos outros semelhantes, desmente já os comentários depreciativos dos sertanejos que vivem próximos à reserva dos crahôs – declaração como: “A língua deles só tem 50 palavras”. Ou: “o índio só fala bobagem”. Isto é, para o ouvido destreinado, o índio só fica balbuciando sons e sílabas sem nexo, como uma criancinha!

A língua crahô, ao contrário, é rica em palavras, como imensa criatividade na formação de novos vocábulos. Há, por exemplo, nomes diferentes para o milho em cada fase de seu desenvolvimento. Na época colonial, ao avistarem pela primeira vez os “brancos”, os índios os denominavam de: kupén – aqule que anda “enrolado em panos”. Em avistarem um trem os indígenas o chamaram de: wapôo-ti, a “grande faca”, possivelmente pela maneira que a locomotiva cortava o horizonte na sua frente, enquanto o trem seguia pelos trilhos.

Quanto ao dom de socorros, se descobre que, desde o princípio, Deus criou a mulher para ser a “ajudante  idônea” do homem. Enquanto Adão lavrasse e guardasse a terra, Eva estaria ao seu lado, “sustentando-lhe a cabeça”, auxiliando-o. A Igreja do Senhor, de modo semelhante, como um corpo se move segundo os ditames de Cristo, a Cabeça, ajudando-o a cumprir os desígnos divinos na terra.                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                          

A índole de socorrer e ajudar a outrem, porém, não é algo natural do homem, o qual prefere dominar e subjugar os outros – razão de grandes guerras na terra! Uma verdadeira conversão a Jesus Cristo e o batismo com o Espírito Santo fazem com que o seguidor de Jesus  encontre forças  para considerar morto o seu “eu” e ter a graça para andar em novidade de vida, guiado pelo Espírito Santo (Romanos 6.10;8:14). Abraçando o exemplo de Jesus, ele tornou-se servo de Deus e de todos (Filipenses 2.7), servindo aos irmãos e socorrendo os necessitados (Evita-se deste modo, na congregação, a formação de uma “bolha” que ilustra o velho ditado: “Muitos caciques. Poucos índios!).

Como é bom estar com aqueles que no lar e na Igreja exercem voluntariamente e de bom ânimo o dom de socorros! Eles varrem o chão e ajeitam as cadeiras para a reunião; lavam a louça; limpam banheiros e tiram para fora o lixo; ajudam fazer e levar o “sopão” para os carentes; fazem visitas; ficam de vigília no hospital ao lado de um enfermo; fazem serviços de office- boy para um obreiro cansado e atarefado; e muitas outras obras semelhantes, “apoiando a cabeça” de outrem.

O rei Davi, na antiguidade, dava importância ao dom da ajudar e estabelecer a norma em Israel: “Qual é a parte dos que descem à peleja, tal será também a parte dos que  ficaram com a bagagem (os ajudadores), receberão partes iguais” (I Samuel 30.24). No Novo Testamento, uma discípula chamada Tabita, ou Dorcas, foi ressuscitada da morte por causa de suas boas obras e esmolas entre as  viúvas pobres (Atos 9.36-40).

As nações do mundo serão julgadas por Jesus Cristo no seu reino segundo o comportamento de compaixão e misericórdia para com os necessitados. Elas, chamadas de nações “ovelhas”, receberão a bênção do Pai por suprir as necessidades dos famintos e sedentos, os nus, os forasteiros, os enfermos, e os presos. Vai dizer o Rei: “Quando o fizeste a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizeste” (Mateus 25,31-40). As nações “bodes”, porém, que nada lhes  fizeram, serão destinadas ao castigo eterno (25.41-46)!

Que valorizemos mais e mais, como Deus o faz o “dom de socorros” no nosso meio! Amém.

Mary F. B. Hemmons,  Foi missionária entre os índios Crahôs Porto Alegre, Rs. Agosto, 2012

      

 


MEUS IRMÃOS DA IGREJA INDÍGINA!
 
"Aos 19 anos(1977),  recém formada como Técnica de Enfermagem, ouvi de uma mulher cristã: "Você deveria trabalhar entre os índios em Nonoai, eles tem tantas necessidades e vários são cristãos."
Confesso que fiquei com raiva dela. Pensei;"porque ela não vai para o meio do mato..." Mas uma curiosidade ficou em meu coração: Indios convertidos a Jesus? Eu somente ouvi falar de  índios nos livros de história.
Alguns anos depois, Deus colocou em minhas mãos a revista Novas Tribos, logo fiz assinatura e comecei a correspondência com irmãs missionárias entre os indígenas, algumas tenho até hoje. Quantas notícias maravilhosas e muitas tristes: as dificuldades enormes, falta de apoio, retorno de missionários das aldeias por falta de sustento. Mas Deus continua Sua obra!
Comecei a "participar" desta obra escrevendo palavras de ânimo em cartões para irmãos nas matas  e alguma não conheci.
Em setembro de 2004 tivemos , Joana e eu, a oportunidade de participar do 4 CONPLEI (Congresso  Nacional de Pastores e Lideres Indígenas), na Missão Caiuá  em Dourados, Mato Grosso do Sul.
 
A Irmandade Evangélica de Maria (Ir.Basiléia Schlink), de Curitiba, tiveram a direção de Deus de fazerem um "Pedido de Perdão" aos irmãos  indígenas por todas as crueldades a que o seu povo foi submetido ao longo dos anos (como Daniel na Biblia). Este inesquecível momento foi acompanhado por vários pastores de diferentes denominações,de vários estados brasileiros; diante de toda liderança indígena manifestamos nosso arrependimento e fomos abraçados com todo amor e lágrimas. Tomamos juntos a Ceia do Senhor com bijú e suco de açaí.
Ouvimos lindos testemunhos e cantamos juntos vários hinos em diferentes idiomas.  Foi entregue a Biblia traduzida em Guaraní, sob forte emoção e alegria. Foram dias de muita alegria ouvindo como Deus estava trabalhando entre este povo rejeitado, muitas vezes, pela própria Igreja "branca" mas cheia do Espírito Santo e vitórias.
 
Tribos restauradas do alcoolismo e prostituição (consequentes doenças venéreas) e suicídios. Sendo alfabetizados em sua língua materna e português, para que possam manter suas tradições mas não escravos de "invasores".
 
Na última noite visitamos uma aldeia, com sérios problemas de água contaminada por agrotóxicos das fazendas ao derredor, muita dificuldade para alimentação. Mas o culto, no meio de muita poeira e mosquitos, animais magros e crianças doentes, sob a luz de lampiões foi muito animado. Um missionário indígena, evangelizando e cuidando do seu povo!
 
Voltei com a convicção: nossas matas cantam e louvam ao Criador através deste povo que conheceu o LIBERTADOR JESUS, E DEUS SE ALEGRA COM ELES!    SÃO MEUS IRMÃOS!
 
Me alegro com o que Deus está fazendo e quero participar de TUDO que ainda vai fazer. Quando ouço o hino Grandioso és Tu, bate uma saudade daqueles dias tão especiais onde tivemos o privilégio de participar de um "programa de índio" e fomos MUITO  edificadas.
OBRIGADA SENHOR!
 
Ingrid Hort  e Joana Frey 



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