
Em Cada Povo Uma Igreja Genuinamente Indígena
O DOM DE SOCORROS
07/09/2012 12:17
O DOM DE SOCORROS
(I Coríntios 1.28)
No seu trabalho com a língua indígena, o tradutor da Bíblia está sempre à caça de novas palavras para transmitir conceitos bíblicos. A busca da palavra acertada às vezes se transforma numa intensa batalha espiritual, a ser vencida com muitos louvores a Deus e orações com jejum (II Crônicas 20.21,22; Marcos 9.29). Aí, inesperadamente raiando como uma luz a palavra tão desejada vai aparecer - às vezes em resposta a uma pergunta simples do tradutor, ou numa conversa descontraída entre os indígenas, por exemplo: Foi assim que o saudoso missionário, Arthur Hemmons, descobriu a tradução de: “socorrer” ou “ajudar”. Ao perguntar a um índio da tribo crahô (um povo que vive ao norte do estado Tocantins) como ele diria que alguém estava ajudando a outrem, o índio respondeu: “kran-kaî pá”. Isso é, “apoiar a cabeça”. Com esta tradução, não é difícil se imaginar alguém triste, cabisbaixo, desalentado, sendo reanimado e alegrado por um amigo. Ou alguém fraco e doente, tendo a sua cabeça erguida por alguém que vem socorrê-lo. São, ambos, atos que fazem parte do “dom de socorros” e refletem o caráter e ministério do Espírito Santo na vida do discípulo de Jesus (João 14. 16,26).
Numa nota à parte, o vocábulo citado acima, com muitos outros semelhantes, desmente já os comentários depreciativos dos sertanejos que vivem próximos à reserva dos crahôs – declaração como: “A língua deles só tem 50 palavras”. Ou: “o índio só fala bobagem”. Isto é, para o ouvido destreinado, o índio só fica balbuciando sons e sílabas sem nexo, como uma criancinha! A língua crahô, ao contrário, é rica em palavras, como imensa criatividade na formação de novos vocábulos. Há, por exemplo, nomes diferentes para o milho em cada fase de seu desenvolvimento. Na época colonial, ao avistarem pela primeira vez os “brancos”, os índios os denominavam de: kupén – aqule que anda “enrolado em panos”. Em avistarem um trem os indígenas o chamaram de: wapôo-ti, a “grande faca”, possivelmente pela maneira que a locomotiva cortava o horizonte na sua frente, enquanto o trem seguia pelos trilhos.
Quanto ao dom de socorros, se descobre que, desde o princípio, Deus criou a mulher para ser a “ajudante idônea” do homem. Enquanto Adão lavrasse e guardasse a terra, Eva estaria ao seu lado, “sustentando-lhe a cabeça”, auxiliando-o. A Igreja do Senhor, de modo semelhante, como um corpo se move segundo os ditames de Cristo, a Cabeça, ajudando-o a cumprir os desígnos divinos na terra.
A índole de socorrer e ajudar a outrem, porém, não é algo natural do homem, o qual prefere dominar e subjugar os outros – razão de grandes guerras na terra! Uma verdadeira conversão a Jesus Cristo e o batismo com o Espírito Santo fazem com que o seguidor de Jesus encontre forças para considerar morto o seu “eu” e ter a graça para andar em novidade de vida, guiado pelo Espírito Santo (Romanos 6.10;8:14). Abraçando o exemplo de Jesus, ele tornou-se servo de Deus e de todos (Filipenses 2.7), servindo aos irmãos e socorrendo os necessitados (Evita-se deste modo, na congregação, a formação de uma “bolha” que ilustra o velho ditado: “Muitos caciques. Poucos índios!).
Como é bom estar com aqueles que no lar e na Igreja exercem voluntariamente e de bom ânimo o dom de socorros! Eles varrem o chão e ajeitam as cadeiras para a reunião; lavam a louça; limpam banheiros e tiram para fora o lixo; ajudam fazer e levar o “sopão” para os carentes; fazem visitas; ficam de vigília no hospital ao lado de um enfermo; fazem serviços de office- boy para um obreiro cansado e atarefado; e muitas outras obras semelhantes, “apoiando a cabeça” de outrem.
O rei Davi, na antiguidade, dava importância ao dom da ajudar e estabelecer a norma em Israel: “Qual é a parte dos que descem à peleja, tal será também a parte dos que ficaram com a bagagem (os ajudadores), receberão partes iguais” (I Samuel 30.24). No Novo Testamento, uma discípula chamada Tabita, ou Dorcas, foi ressuscitada da morte por causa de suas boas obras e esmolas entre as viúvas pobres (Atos 9.36-40).
As nações do mundo serão julgadas por Jesus Cristo no seu reino segundo o comportamento de compaixão e misericórdia para com os necessitados. Elas, chamadas de nações “ovelhas”, receberão a bênção do Pai por suprir as necessidades dos famintos e sedentos, os nus, os forasteiros, os enfermos, e os presos. Vai dizer o Rei: “Quando o fizeste a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizeste” (Mateus 25,31-40). As nações “bodes”, porém, que nada lhes fizeram, serão destinadas ao castigo eterno (25.41-46)!
Que valorizemos mais e mais, como Deus o faz o “dom de socorros” no nosso meio! Amém.
Mary F. B. Hemmons, Porto Alegre, Rs. Agosto, 2012
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